segunda-feira, 13 de setembro de 2010

HISTÓRIA DE VACARIA

O nome de Vacaria está diretamente ligado à expressão espanhola “Baqueria de los Piñales” (Vacaria dos Pinhais), denominação que os jesuítas espanhóis atribuíram aos Campos de Cima da Serra, onde iniciaram a criação de gado que abasteceria as reduções jesuíticas.

A Vacaria do Mar, situada entre a Lagoa dos Patos e os rios Jacuí e Negro, estava sendo saqueada pelos espanhóis e pelos portugueses, com o auxílio dos índios minuanos, para obtenção de couro e graxa que exportavam em larga escala. Os missionários pensaram em afastar o gado para lugares distantes preservando-os do extermínio eminente, sendo necessária à criação de outra “vacaria”.

Os jesuítas encontraram na região nordeste do estado, extensões de campos fortemente cercadas por fronteiras naturais: ao leste, os aparados da serra; ao norte, o caudaloso rio Pelotas; ao sul, o profundo rio das Antas; e a oeste, as imensas florestas denominadas mais tarde por Mato Castelhano e Mato Português.De incomparáveis belezas, de verdes campos ondulados, com abundantes matas e capões, quase sempre dominados pelo altivo pinheiro araucária. A região parecia inacessível a espanhóis e portugueses e serviria muito bem para criação de gado, onde a situação para o desenvolvimento da pecuária, não só pela segurança que oferecia no momento, como pela excelência dos campos pastosos e das boas aguadas que os regavam. Os jesuítas haviam levantado nos Campos de Vacaria um marco de pedra com a legenda “S.J.1692”. Um desses marcos encontra-se no Museu Público Municipal.

Dentro destes limites naturais, descreve o Padre Roque Gonzáles quando visitara a região décadas antes de 1700: ”Planícies se estendem a perder de vista, descortinando paisagens variadas e rasgando horizontes de dilatada amplidão; alternam com vales risonhos, enquanto lá no alto das serras negreja o verde-escuro pinhal, de copas arredondadas, imponentes no silêncio quase religioso, à luz abafada, onde erguem os braços ao céu, como que em súplica muda, mil candelabros gigantes, formados pelas esguias e possantes araucárias”. (Teschauer).

Os campos de Vacaria, à chegada dos primeiros povoadores, eram habitados pelos índios Kaingang, nome moderno dos indígenas nativos, chamados de Coroados no século 19 e antes disso de Guaianás . As tribos dos Kaingang, de acordo com documentos antigos e estudos antropológicos mais recentes, eram formadas por centenas de índios e coordenadas por chefes superiores e caciques subordinados. Alimentavam-se do pinhão, o abundante fruto do Pinheiro-do-Paraná, que comiam recém-colhido ou conservado por meses, e ainda cultivavam algumas plantas tropicais (milho, por exemplo), caçavam e recolhiam outros produtos naturais.

Os missionários, após a fundação da Vacaria dos Pinhais, deram instruções aos índios Guaianás sobre o modo que deveriam cuidar do gado que ficava sob guarda e proteção. Os Guaianás iam dando conta do desempenho de suas atribuições, ao passo que os missionários, com intervalos regulares, repetiam visitas de inspeção periódica.

Entretanto, os portugueses da Colônia do Sacramento, tentaram courear e fazer graxa, como costumavam na Vacaria do Mar por volta de 1718, provocando violenta reação missionária, sobrevindo um período de paz até 1729.

Mesmo devastada a Vacaria dos Pinhais, a gadaria continuara a se multiplicar e a notícia da imensa região reúna, de excelentes pastagens naturais, acende a cobiça da população de Laguna e grande parte da Província de São Paulo, que compreendia o atual Estado do Paraná, formara então uma corrente migratória disposta a enfrentar os “Sertões das Vacarias”, ficando por eles conhecida através de Cristóvão Pereira de Abreu, o pioneiro dos tropeiros, que abriu caminho entre 1731 e 1732, e Francisco de Sousa e Faria que abriu a Estrada dos Conventos, partindo em direção da Vacaria dos Pinhais, conhecida como Caminho das Tropas.

Com exceção do trabalho agrícola praticado desde o berço, a nova lida de campo, da pecuária, vai mudar os costumes dos pioneiros da Vacaria dos Pinhais. Agora é necessário aprender a arte de laçar, de domar, marcar, castrar, tirar leite, fabricar queijo e depois, iniciar a epopéia da vida de tropeiro, a fim de comercializar os rebanhos.

Em 1752 eram concedidas as primeiras sesmarias, pelo governo português no sentido de povoar a Vacaria dos Pinhais. Dentre as primeiras estâncias que constituíam a ”Vacaria”, uma até hoje conserva o nome de batismo: ”Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, que teve por primeiro donatário José de Campos Brandemburgo, que requere concessão de área superior a três sesmarias obtendo despacho confirmado em 1770. Atualmente, a sede da Fazenda do Socorro, toda em estilo colonial português abre suas portas recebendo turistas.

Um fato marcante aconteceu por volta de 1750, no local situado na coxilha entre os arroios Uruguaizinho e Carazinho, um camponês, quando fazia a habitual queima de campo, ao observar que o campo não tinha queimado a contento, com exceção de uma touceira aproximando-se do local, encontrou uma pequena imagem de madeira com a inscrição no pedestal ”Nossa Senhora da Oliveira”. Espalhada a notícia do encontro da imagem entre os poucos moradores, surge a idéia de abrigar a pequena imagem numa ermida, na coxilha, junto ao local do encontro. Foi então construída uma capelinha de paredes de barro e coberta de capim. O local tornou-se conhecido por devotos que vinham pedir a Nossa Senhora o alívio dos males físicos e morais.

A devoção a Nossa Senhora fez com que a comunidade, aliada à presença dos padres Capuchinhos Frei Pacífico e Frei Efrem de Bellevaux, projetassem e construíssem um dos mais belos templos do Rio Grande do Sul. Em 1900 foi laçada a pedra fundamental para a construção de uma nova igreja. Hoje, Catedral suntuosa, no centro da cidade, feita em pedra moura em estilo neogótico, abriga a imagem encontrada.

Uma das mais antigas comunas do Estado, fundada dois anos após a chegada dos primeiros povoadores do primitivo Continente de São Pedro do Rio Grande, Vacaria foi desde o princípio motivo de atração. É a "Porteira do Rio Grande no tempo e no espaço”.

Vacaria emancipou-se de Santo Antonio da Patrulha no dia 22 de Outubro de 1850. A história continua presente no cotidiano vacariano através do culto às tradições gaúchas, dos seus CTGs, do chimarrão, das churrascarias e das lojas de artesanato típico. Fonte: Prefeitura Municipal.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Quem fez História

MANUEL DUARTE escreveu “NO PLANALTO” em 1930, pela Editora da Livraria Globo de Porto Alegre. Pesquisa nas livrarias da capital localizou o únicoexemplar, muito bem conservado, apesar das páginas amarelas. Mergulhar na leitura da Vacaria de 77 anos atrás, aguça a curiosidade, e desperta a vontade de devorar suas 126 páginas, a começar pelo prefácio do erudito historiador Dr. Affonso de E. Taunay. Este mostra-se extasiado pelas descrições que Manoel Duarte faz de sua terra e sua gente. Verdadeira relíquia literária, de valor inestimável às páginas 41 a 50, Manoel Duarte publica vocábulos gerados na inventiva graciosa ou bárbara, do meio. A disputa pela Fazenda do Pinheiro Grosso, a fundação da Fazenda do Socorro e a conquista do Planalto, são temas de grande valor histórico.

FIDÉLIS DALCIN BARBOSA nasceu em Montenegro em 14/12/1915. Foi
professor de Literatura e Língua Portuguesa em Pelotas, Caxias do Sul, Canela e especialmente em Lagoa Vermelha. Estagiou por cinco anos em Portugal, para
estudos e pesquisas aprofundando seu conhecimento sobre a influência
portuguesa no sul do país. Foi jornalista, correspondente de vários jornais, mas
especialmente escritor. Seu conhecimento da realidade regional o levou as
incursões literárias sobre a História do Rio Grande do Sul, com a primeira edição em 1985. Estudou os indígenas, colonos, imigrantes, não descuidou da
literatura, do folclore e dos costumes que marcam a alma gaúcha. Aos seus
alunos no Ginásio Duque de Caxias, despertou o interesse pela leitura e pela
escrita. Entre outras obras, publicou Semblantes dos Pioneiros, Prisioneiro da
Montanha, Prisioneiros do Abismo, Prisioneiros dos Bugres, Anjos Prisioneiros,
Campo dos Bugres, Fanáticos de Jacobina, que remontam histórias e lendas dos
Aparados e mais 50 outras publicações temáticas, além de Vacaria dos Pinhais em 1978. Até os últimos dias de sua vida em Lagoa Vermelha, leu e escreveu com verdadeira paixão pela língua de Camões, para expressar sentimentos.

JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA exerceu o magistério por quase quarenta anos em Vacaria, foi Diretor de Escola Pública, integrado à comunidade, participou
desde a construção da Catedral, até as memoráveis comemorações doCentenário de Vacaria em 1950. Escreveu sobre tudo e sobre todos, menos सोब्रे ele mesmo, sua modéstia não permitiu। O professor é lembrado em sua terra, identificando um dos estabelecimentos de ensino mais tradicionais e respeitados, a Escola Estadual José Fernandes de Oliveira – Zezinho. Um dosfascículos de nossa série de reportagens em 2008 resgatará a vida e a obra doautor de Rainha do Planalto–1959 da Editora São Miguel, reconhecida como a
mais completa pesquisa sobre os Borges Vieira, pioneiros da colonização
açoriana de 50 municípios da Região Nordeste.